Análise de fotografias - França, 1968

Antes de tratar de qualquer imagem separadamente nesta análise, dedicarei uma pequena introdução para esclarecer suas similaridades. As cinco imagens escolhidas foram tiradas de uma mesma fonte: o site da agência Magnum. A Magnum foi criada por quatro fotógrafos reconhecidos mundialmente – Henri Cartier Bresson, Robert Capa, George Rodger e David “Chim” Seymour – em 1947. O enfoque da agência era –e continua sendo – o fotojornalismo. Os trabalhos autorais dos fotógrafos acabam sendo um campo paralelo ao fotojornalismo. Hoje em dia a agência tem quatro escritórios: em paris, Nova Iorque, Londres e Tóquio.
Todas as fotografias a serem analisadas nesse trabalho são das manifestações em Paris, entre maio e junho de 1968.
No quadro elaborado por Boris Kossoy (QUADRO 2, PÁGINA 46) estão as possibilidades de análise de uma fotografia no campo das ciências (história social, antropologia, geologia...) e no campo das artes. Toda fotografia é uma arte plástica que vem não só permeada do senso estético e do gosto particular do fotógrafo, como também possui um conteúdo singular do assunto captado nas coordenadas TEMPO/ESPAÇO. Portanto, nas análises que se seguem, destacarei o nome dos fotógrafos, o tema de cada fotografia, assim como o local e o contexto temporal em que estão inseridas.

Imagem 1

(Henri-Cartier Bresson. A Escola de Belas-Artes. Paris, maio de 1968. Magnum Photos. Disponível em: http://bit.ly/5hyb23. Acesso em: 15 de novembro de 2009)

A fotografia tirada pelo francês Henri-Cartier Bresson apresenta, a princípio, três elementos de análise: os materiais no alto, os cartazes no meio e duas pessoas na parte inferior da imagem.
Os materiais são, pelo que conseguimos identificar, telas de pintura e rolos de papel. São esses materiais que, formalmente, tornam a imagem inteligível. Eles estão guardados em uma sala da Faculdade de Belas-Artes de Paris. A faculdade foi ocupada pelos estudantes em 14 de maio de 1968 e os traços dessa ocupação estão nos outros dois elementos aos quais nos referimos. O lugar estava sendo usado para a confecção de cartazes a partir da técnica de serigrafia e seriam usados em manifestações nas ruas de Paris.
Consegue-se reparar que os cartazes têm enfoques diversos, seja atacando o presidente, a máquina burocrática estatal ou uma organização operária. Nesse caso, notamos no último cartaz em que está escrito "Combien?" ("Quanto?"), ao mesmo tempo em que mostra uma representação da CGT (Confederação Geral dos Trabalhadores) recebendo dinheiro de uma mão acima do órgão. A CGT não era bem quista pelos estudantes, porque, mantendo relações com o Partido Comunista, participava do "estabelecido", ou seja, do jogo da política tradicional. Além disso, os trabalhadores eram vistos por determinada parte dos estudantes como "vendidos", ao invés de revolucionários, pois acreditava-se que seu único desejo era o aumento dos salários e não a transformação da sociedade de modo profundo.
Os dois estudantes deitados, dormindo na sala, são a clara expressão da ocupação da área, pois estão em organicidade com o material de protesto. Não se trata de um descanso permanente, mas o oposto, apenas uma pausa entre atividades contestatórias, dentro ou fora daquele ambiente.

Imagem 2

(Guy Le Querrec. Sem título. Paris, 27 de maio de 1968. Magnum Photos. Disponível em: http://bit.ly/4p6zY3. Acesso em: 15 de novembro de 2009)

A fotografia, tirada no dia 27 de maio de 1968, em virtude de um encontro promovido no estádio Charlety pela UNEF (União Nacional dos Estudantes da França), traz, em destaque duas pessoas deitadas no gramado. A expressão no rosto da moça é de cansaço, possivelmente explicado pela agitação que eclodiu naquele mês na França.
O fotógrafo Guy Le Querrec, ao registrá-los deitados, flagrou, bem como Henri-Cartier Bresson na fotografia A Escola de Belas-Artes (2.3.1 – A Escola de Belas-Artes, Henri-Cartier Bresson), um momento de pausa da agitação. Um breve momento, certamente, após o qual novos eventos tomarão lugar.
Neste breve momento, o jovem à frente, deitado perpendicularmente no dorso da moça, lê um jornal em que uma das manchetes principais remete às agitações de maio de 1968 em Paris. Podemos refletir acerca de dois aspectos a partir dessa percepção. Em primeiro lugar, abre-se uma dimensão para que possamos compreender o valor da informação e do conhecimento para os jovens que ali se reuniam em um encontro de protesto. As manifestações de maio de 1968 em Paris foram intelectualizadas. Em segundo lugar, a imprensa, desde o século XIX, ocupa lugar de destaque nos debates políticos e intelectuais: ela abre espaço para as lutas políticas e ideológicas e transcende a função de apenas informar.
Na capa do jornal lido pelo jovem deitado no gramado está escrito: “A revolução de maio”. Há muitos debates hoje em dia em torno dessa denominação, se os acontecimentos daquele ano de 1968, sobretudo na França, foram ou não uma revolução, buscando comparar demandas e vitórias dos movimentos que se engajaram naquelas manifestações (principalmente estudantes, trabalhadores e artistas).

Imagem 3

(Bruno Barbey. Sem título. Paris, 6 de maio de 1968. Magnum Photos. Disponível em: http://bit.ly/7M9ozj. Acesso em: 15 de novembro de 2009)

A fotografia de Bruno Barbey traz uma forte indicação de movimento, sobretudo pelo policial em primeiro plano, cujas pernas e o cassetete sofrem uma deformação decorrente de sua ação.
Tirada no 6º distrito de Paris, no Bairro Latino, em 6 de maio de 1968, a imagem é a da contenção de uma manifestação de estudantes e professores pela tropa de elite. Eles se posicionavam contra a invasão policial à Sorbonne, maior universidade francesa. Os tumultos se estenderam pelas ruas de Paris, após a multidão ser dispersa e começar a fazer barricadas. A polícia respondeu com bombas de gás e alguns manifestantes foram presos.
A violência do evento está traduzida na figura de uma moça caída e estendida na rua, tentando proteger-se com a própria mão. Um pouco mais atrás, na porta de um estabelecimento comercial, algumas pessoas observam a movimentação. Com roupas elegantes, trajando terno e gravata, parecem conversar entre si com certa tranquilidade, o que denota que a vida em Paris naquele começo de mês de maio de 1968 não era só agitações opondo posicionamentos antagônicos.

Imagem 4
(Martine Franck. Sem título. Paris, 30 de maio de 1968. Magnum Photos. Disponível em: http://bit.ly/5mhm9f. Acesso em: 15 de novembro de 2009)
Fotografia de Martine Franck, tirada na região de Ile-de-France em Paris. A senhora em destaque no primeiro plano era uma das participantes da marcha de apoio ao Presidente General De Gaulle. A marcha partiu da Praça da Concórdia e se dirigiu ao Arco do Triunfo, em 30 de maio de 1968. O primeiro mês das grandes manifestações chegava ao fim e o grupo que apoiava o presidente da França mostrou-se bastante grande. De Gaulle afirmava que só renunciaria caso esse fosse o clamor do povo.
O retrato traz em primeiro plano uma senhora, protegendo-se em baixo de seu guarda-chuva. Ao fundo, vemos outra senhora, esta mais jovem, provavelmente. Ambas vestem-se com elegância e denotam uma certa camada social que apoiava o general De Gaulle: uma classe média conservadora que, ao fim e ao cabo, constituía a maior parte da população francesa.
Um texto interessante sobre o assunto é o artigo “Os velhos em 1968” , de Lincoln Secco. Apesar de tratar mais dos intelectuais do que do povo, em si, o texto é elucidativo na comparação entre a juventude rebelde e as pessoas mais velhas naquele momento de contestação.
Imagem 5

(Martine Franck. Sem título. Paris, maio de 1968. Magnum Photos. Disponível em: http://bit.ly/5Usmrw. Acesso em: 15 de novembro de 2009)


Nessa fotografia tirada por Martine Franck, na Sorbonne, está acontecendo uma discussão entre artistas e estudantes. No centro, o pintor chileno Roberto Matta, que tinha tendências estéticas surrealistas. Matta, nas décadas de 1960 e 1970, envolveu-se na luta de movimentos sociais, atitude que não condizia com a política chilena a partir de 1973, sob a ditadura de Augusto Pinochet. O ditador chegou a mandar cobrir com várias camadas de tinta um mural do artista, que celebrava a vitória de Salvador Allende, presidente deposto pelo golpe militar de 1973. Destaca-se, desse modo, na fotografia, não somente o envolvimento de estudantes e intelectuais franceses no Maio de 68, mas um relevante intercâmbio ideológico e cultural. A sociabilidade intelectual durante os movimentos de maio de 1968 foi intensa e envolveu artistas e estudiosos de diversos países.

Bibliografia

KOSSOY, Boris. Fotografia & História. São Paulo: Ateliê Editoral, 2003. 2ª edição revista.
About Magnum. Disponível em: http://agency.magnumphotos.com/about/about. Acesso em: 28 nov. 2009.
The Associated Press. Chile unveils mural thought destroyed by dictator Augusto Pinochet. Disponível em: http://www.chroniclejournal.com/stories_entertainment.php?id=147801. Acesso em: 28 nov. 2009.

O lugar da propaganda na Juventude Hitlerista e no período do entre-guerras

Juventude Hitlerista
(AllPosters)

Bund Deutscher Mädel, Liga das Garotas Alemãs
(http://sitemaker.umich.edu/youthunderfascism/home)

Juventude Hitlerista, 1943
(advertisingarchives.co.uk)

Juventude Hitlerista, 1938
(advertisingarchives.co.uk)


Juventude Hitlerista, 1938
(advertisingarchives.co.uk)


Juventude Hitlerista, década de 1940.
(advertisingarchives.co.uk)

Repercussão das culturas de rebeldia e juventude no Brasil

CENTRO POPULAR DE CULTURA - Retirado de: Centro de Pesquisa e documentação de História Contemporânea do Brasil
disponivel em: http://www.cpdoc.fgv.br/nav_jgoulart/htm/6Na_presidencia_republica/Centro_Popular_de_Cultura.asp

FESTIVAIS DA RECORD
www.ampulhetavirtual.blogspot.com / Acesso em: 16 de julho de 2009

DISCOGRAFIA - Caetano Veloso - 1968
www.musicaa.musicblog.com.br

Movimento Jovem no Brasil

1968 na França

Jean-Paul Sartre



Cartaz montado em 1968 na França com os dizeres "Não à burocracia". (Fonte: Flickr: "Sebaxxxtian". Website: http://www.flickr.com/photos/sebaxxxtian/tags/68/page2/)


Estudantes sobem na Bastilha em Paris. Ao fundo, a inscrição em pedra diz: "Liberdade". (Fonte: http://library.thinkquest.org/C001155/index1.htm) (Foto: Jean-Claude Seine. Website: http://www.photos-mai68.com/)


Mulheres seguram cartaz em protesto em Paris no ano de 1968 com os dizeres: "Trust: Bourjois-Chanel (...) Barbara Gould (...) Aumento de nossos salários – CGT [Confederação Geral dos Trabalhadores]" (Fonte: Jean-Claude Seine. Website: http://www.photos-mai68.com/)


Cartaz montado por estudantes da Faculdade de Belas Artes na França em 1968 com os dizeres: "A polícia se exibe na 'Belas Artes'. A'Belas Artes' se exibe na rua". (Fonte: http://expositions.bnf.fr/mai68/)


Cartaz montado no ano de 1968 na França mostrando uma bola em movimento que derrubaria os pilares da arcaica contestação francesa [os nomes inscritos nos pilares são de partidos políticos majoritariamente orientados à esquerda] que aceitava as regras do jogo [notar que todos os pilares sustentam o teto que suporta a bandeira francesa, remetendo à participação de tais partidos no jogo político francês]. Na bola, as inscrições: "Poder popular". (Fonte: http://brownsoundclothing.com/sla/blog/6868/6868-Pages/Image275.html)

Primavera de Praga

Grafitti feito em 1968 na Tchecoslováquia com os dizeres: "Lênin, acorde, Brejnev ficou louco! (Fonte: http://library.thinkquest.org/C001155/index1.htm)


Cartaz montado em agosto de 1968 na Tchecoslováquia com os dizeres: "Socialismo sim! Ocupação não! Somos uma nação livre!" (Fonte: http://library.thinkquest.org/C001155/index1.htm)


Cartaz montado em agosto de 1968 na Thecoslováquia com os dizeres: "Socialismo sim; ocupação não!!!" (Fonte: http://library.thinkquest.org/C001155/index1.htm)


Foto tirada em 1968 mostra um tanque soviético dividindo espaço com os habitantes e transeuntes de Praga. (Fonte: http://library.thinkquest.org/C001155/index1.htm)


Cartaz montado em 1968 na Thecoslováquia mostra dois momentos de entrada de tropas soviéticas na Tchecoslováquia e as diferentes visões acerca dos fatos: em 1945, os soldados eram vistos com bons olhos, como libertadores; já em 1968, eram opressores, assassinos. (Fonte: http://library.thinkquest.org/C001155/index1.htm)
Cartaz montado em 1968 na Tchecoslováquia com os dizeres: "Estamos ao seu lado; esteja ao nosso" (Fonte: http://library.thinkquest.org/C001155/index1.htm)


Cartaz montado em 1968 na Tchecoslováquia mostra Lênin chorando devido à invasão do país pelas tropas do Pacto de Varsóvia (Fonte: http://library.thinkquest.org/C001155/index1.htm)

Da modernidade à pós-modernidade

Obras do artista brasileiro Vik Muniz

Marat (Sebastião), Pictures of Garbage, 2008.
Mona Lisa dupla (manteiga de amendoim e geleia) (A partir de Warhol), 1999
122 x 152 cm

The Title of This Photograph Is Marilyn Monroe, Actress, New York City, May 6, 1957, 2007
The tower of Babel, 2007

Medusa Marinara, 1998

O triste fim de um movimento estudantil: Massacre da Praça da Paz Celestial

Réplica da Estátua da Liberdade feita por estudantes
(fotos de Jeff Widener)

O rebelde desconhecido de Tian'anmen

22/04/1989
estudantes participam da cerimônia fúnebre de Hu Yab

Fim dos protestos com ocupação do Exército Popular de Libertação